Porque é que Montalegre em Janeiro é excelente?

Não, não é a neve. As minhas preferências são outras...


Seis Sessões

Um homem que contraiu poliomielite em criança e que vive praticamente num pulmão de ferro decide aos 38 anos perder a virgindade. Para tal conta com um Padre com quem vai desabafando e com uma terapeuta sexual especializada que o guia nos caminhos de descoberta do corpo e da relação sexual.

Seis Sessões é baseado em factos reais, na história de Mark O'Brien que, apesar da grave doença, foi poeta, jornalista e fervoroso activista pelos direitos dos deficientes físicos. Vencedor do prémio especial do Júri no Festival de Sundance, tem como principal mérito as prestações extremamente corajosas de John Hawkes e Helen Hunt nos papéis de O'Brien e da terapeuta Cheryl Cohen-Greene.

Apesar de alguma inconsistência no enredo e na caracterização das personagens, Seis Sessões vale muito pela qualidade dos protagonistas  - a nomeação de Helen Hunt para o Oscar de Melhor Actriz é justíssima e a não-nomeação de Hawkes para Melhor Actor é quase um escândalo.

E sim, é neste filme que há nus frontais. Seus perversos.

Guia para um Final Feliz

É o "guilty pleasure" da maioria dos críticos este ano. O novo filme de David O. Russel recebeu oito nomeações para os Oscars e  passou a ser um dos obrigatórios da temporada.

Guia para um Final Feliz acompanha a vida complicada de Pat Solatano (Bradley Cooper) que, após oito meses numa instituição para doentes mentais por ter agredido violentamente o amante da sua mulher, é resgatado pela mãe para tentar uma nova vida na casa dos pais. Pelo caminho, Pat conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), jovem viúva também problemática, que se oferece para o ajudar a reatar a relação com a mulher, não sem pedir algo em troca.

Mas o que faz de Guia para um Final Feliz um filme diferente das dezenas de comédias românticas que nos habituámos a ver em tardes de fim-de-semana? Não muito, na verdade - e daí a supresa de tão boa aceitação pela crítica. Há efectivamente um tema diferente e mais complexo na abordagem, a problemática das doenças do foro psíquico e talvez esteja aqui o maior mérito de Russel: o tom tragico-comico que se mantém ao longo do filme, derivado das atitudes de doentes bipolares ou obsessivos compulsivos transmite ao espectador um misto de sensações que não permite o riso desenfreado mas que também não resvala para uma maior tristeza em várias situações. Também é verdade que o elenco está muito acima da média para um filme do género. O problema é que quando o realizador tem que decidir criar algo de realmente diferente não tem a coragem necessária e escorrega para a banalidade - o que é, realmente, uma pena.

Guia para um Final Feliz vê-se bem, vê-se muito bem. Mas as oito nomeações para os Oscars são um claro exagero (principalmente as de O.Russel para Realizador e Jacki Weaver para Actriz Secundária), e não me espanta que daqui a uns anos seja o filme preferido dos canais portugueses para as tardes chuvosas de Domingo...

Os Miseráveis

Ah, os musicais, os musicais... é provavelmente o estilo mas controverso do cinema. São muitos os que apreciam um bom musical, serão muitos mais os que não o suportam. Eu, embora fã incondicional da magia dos musicais, compreendo perfeitamente quem não gosta, e aceito-o. Compreendo que para quem não é apreciador não faça sentido estar uma personagem a dormir e outra a cantar-lhe aos ouvidos de uma forma que "na vida real" daria certamente origem a discussão e pancadaria. E a verdade é que até me divirto um pouco com esta incompreensão...

Os Miseráveis não foge à regra. É totalmente cantado (para quê mentir?) do princípio ao fim, e muito bem cantado. O realizador Tom Hooper arrisca aqui utilizando um novo método em que os actores cantam para a câmara sendo seguidos num auricular pelo acompanhamento em piano, ao invés do tradicional cantar previamente e depois fazer playback. E a fórmula, no geral, resulta. Os Miseráveis passa por várias fases: Umas fabulosas, outras assim-assim. Embora o elenco seja quase todo excelente (Hugh Jackman, aplausos!!!), Russel Crowe parece sempre deslocado. Não é, de todo, um cantor e espero sinceramente que nenhum dos fãs incondicionais d'O Gladiador tropece neste seu Javert que canta como um tenor enquanto empunha a espada...

É uma grande produção, um bom filme um pouco longo demais mas que envolve o espectador em vários momentos brilhantes, e há um momento perfeito de cinema. Um momento de cinco minutos, o momento de Anne Hathaway que é um dos mais fabulosos que eu já vi, senti, vivi numa sala de cinema. Daqueles momentos que valem um Oscar, uma carreira, uma vida!

Neste caso é fácil: Quem gosta de musicais, deverá gostar d'Os Miseráveis. Quem não gosta não vai aparecer por lá de certeza, por isso...

A Vida de Pi

Recomendo vivamente A Vida de Pi. Não sendo um filme extraordinário, é sem dúvida uma experiência de cinema muito valiosa. E então se for em 3D, melhor ainda! Foi o primeiro filme em 3D que me encheu as medidas em matéria de efeitos visuais e só por isso já vale o preço do bilhete.

Mas A Vida de Pi é muito mais. É um conto apaixonante abordado pelo mestre Ang Lee no pleno das capacidades técnicas a que o realizador já nos habituou. A incrível aventura do jovem Pi que se torna extremamente interessante em planos sempre complicados de abordar como a Fé, a Religão e os limites da capacidade humana.

Para mim, até agora, é o filme que mais se aproxima dos parâmetros que se impõem ao vencedor do prémio de Melhor Filme do Ano. Será suficiente?

A Feira está mesmo aí à porta.

Mais uma Feira do Fumeiro em Montalegre, já estamos em contagem decrescente para o primeiro grande evento do ano.

Mais uma feira... e mais um super-spot promocional criado pelo Sótão de Histórias com a colaboração da malta do CEB-TT de Montalegre:


Esperamos a vossa visita, não faltem!

O Miguel

Há uma pontinha de inveja na forma como eu admiro o Miguel Araújo. É que ele é exactamente o músico que eu gostaria de ter sido se tivesse enveredado pela carreira musical. E este disco dele, que oiço non-stop desde que me veio parar às mãos no Natal, é o disco que eu gostaria de ter lançado.

Sou fã do Miguel desde o tempo em que ele ainda era o AJ nos Azeitonas, e não é (só) por ele ter sido a primeira (e única) figura pública a comentar neste blog. Depois fui acompanhando o projecto "Mendes e João Só", o projecto doido de desenhos+música com o Markl, e eis que chega finalmente o álbum depois do estrondoso hit Os Maridos das Outras.

Para além das letras engenhosas, há uma musicalidade incrível nas canções do Miguel, aquela componente estranha que se aloja num canto do cérebro e que nos faz trautear a música sem pensar durante o dia inteiro.

O álbum é uma delícia, e já sei que só vou parar de ouvir quando souber tudo de cor. É por isso uma tarefa complicada ter que escolher uma música para colocar aqui, já que gosto mesmo de todas. Escolho Reader's Digest porque calculo que depois de Os Maridos das Outras e Fizz Limão, vai ser o próximo single a rodar nas rádios.

Exactamente.

Jennifer Livingstone, jornalista da CBS, foi criticada publicamente por um espectador devido à sua aparência física. Eis a resposta, categórica e pertinente:

Moonrise Kingdom/O Exótico Hotel Marigold

Dois filmes menores, mas ambos nomeados para Globos de Ouro e, na generalidade, bem aceites pela crítica.


Moonrise Kingdom é, para mim, a prova final de que Wes Anderson não é realizador que eu admire particularmente. Apesar de uma história interessante, de alguns momentos muito bons e até bastante divertidos, o estilo de Anderson não funciona comigo e o filme não faz grande sentido para quem não aprecia adultos de calções a saltitar de um lado para o outro e um estilo entre o drama e a comédia que nunca se assume verdadeiramente como um ou outro.

O Exótico Hotel Marigold é uma pequena delícia. Uma escolha acertada de elenco pode, na realidade, transformar um banal filme de Domingo à tarde em algo realmente cativante pela qualidade dos actores. Judi Dench, Maggie Smith, Tom Wilkinson, Bill Nighy emprestam a sua categoria ao argumento como britânicos reformados que decidem passar uma temporada no promissor Hotel Marigold, na Índia, que acaba por revelar qualidades muito inferiores ao prometido. Nota para as cores, os sons, os cenários que despertam no espectador uma vontade súbita de conhecer os encantos da Índia...

Amour

É complicado falar sobre Amour, a mais recente obra do multi-galardoado Michael Haneke e vencedor da Palma de Ouro de Cannes.

Desengane-se quem pensar que é um filme de emoções fortes, de chorar e depois rir e depois voltar a chorar. Nada disso acontece e no entanto é perfeitamente compreensível que haja quem não consiga acompanhar Amour até ao fim (como houve naquela sala de cinema).

Porque o cinema também é isto: A vida. Sem efeitos, sem truques, sem elfos ou máquinas voadoras. A vida, pura e simples - e há um mérito incrível em retratar, neste filme, situações pelas quais todos já passámos ou ainda vamos passar. A cena inicial em que nós, espectadores de cinema, estamos a ser observados por espectadores de um concerto, é a melhor demonstração de que estamos a entrar na casa daquele casal para ver uma vida tão... normal como a de qualquer um de nós.

Esqueçam a parte do entretenimento. Aqui há cinema de altíssima qualidade e uma história de amizade, dedicação, respeito e compromisso. Ingredientes que compõem o amor como deve ser.

Argo

Ben Affleck começa a ser um dos grandes nomes da realização em Hollywood. Depois de Vista pela Última Vez e A Cidade, ambos muito bem aclamados pela crítica, surge com Argo, um drama baseado na história verídica de uma operação secreta e original da CIA para retirar de um Irão em plena revolução seis diplomatas americanos em perigo de vida.

É um filme extremamente competente, com um elenco sólido encabeçado pelo próprio Affleck e com John Goodman e principalmente Alan Arkin em grande forma. De realçar a cinematografia, a banda sonora e o ritmo adequado que permite que o interesse do espectador se mantenha mesmo nas fases mais "políticas" do enredo.

Recomendo, é certamente um dos grandes filmes da época e vale bem a pena.





O cinema, lembram-se?

Não podia deixar de ser, ou o blog arriscava-se a perder a sua identidade. É a altura do bom cinema, dos grandes prémios, e eu já não me debruço sobre o assunto desde 23 de Fevereiro de 2012. Portanto preparem-se, pois a partir de hoje e até ao final de Fevereiro o assunto vai ser quase exclusivamente este...